Se conseguiste ler tudo isto até ao fim, tenho de te dar os parabéns!
Dou-te os parabéns, mas com alguma preocupação com o teu estado mental: é que és um(a) fanático(a) marchense e querias ver se eu dizia mal das marchas da treta que infernizam-te a vida quando sintonizas a Rádio Nazaré ou quando ouves o CD de marchas que encomendaste para o Canadá, Burkina Faso ou mesmo até para o Tirol! Mas ainda não perdi o juízo todo!
Acabamos o nosso curso com a última lição, que são as Marchas em Condições!
E o que são Marchas em Condições? São TODAS ora essa! O Carnaval da Nazaré sem Marchas é como o Carnaval do Rio de Janeiro sem Samba!
O que a gente quer é festa, roupas novas e enganos em fat' de trêne! Faz parte do nosso código genético e, admitam ou não, estão o ano todo à espera do Carnaval... Porque como diz o maior letrista da Nazaré, "o que a gente quer é Marchas, isto é só marchas que a gente quer!" O que me chateia mesmo é a obrigação profissional de tocar marchas sádicas e estar a ver que as pessoas não estão a gostar de as dançar! Juro que pagava para não as tocar. E sou forreta!
Este desejo de marchas reflecte-se nas salas de baile e interessa a toda a gente?
Estive nos bailes de máscaras do Planalto, do Mar-Alto e, claro, do Casino.
Pelo que me foi dado a observar, o gosto e a exigência do público parece ter mudado ou está em vias de mudar…
Não há muitos anos, as séries musicais começavam com uma bossa ou um samba para depois acelerar o ritmo com um samba reaggae ou um axê seguido de um merengue ou dois até chegares ao clímax com as melhores marchas. Ouvia-se muita música brasileira, da “boa”, como Alcione, Elba Ramalho, Chico Buarque, Caetano, Bethânia, Jobim, Daniela Mercury… Só depois vieram os pimbas brasileiros como Netinho, Banda Eva, Cheiro de Amor, um maná para escolheremos repertório… Agora só temos a Cláudia Leite a mostrar as pernas, forró e música sertaneja…
Agora parece que só querem “dançar” marchas e… mais marchas. Fiquei com a ideia de que se tocarmos marchas uma noite inteira ninguém se rala! Eis uma ideia para as salas pouparem na banda: despedir o baterista e o baixista porque se é só para tocarem marchas, nenhum dos dois faz falta! É claro que nem toda a gente deseja isto pois querem dançar o “Roberto Carlos” ou o “Marco Paulo” da ordem… mas não te estiques pois começam logo a esbracejar para o palco a pedir… sim, marchas!
Por outro lado, já repararam nas novas espécies de “marchas” que estão a surgir? São cada vez mais as experiências com vários géneros musicais e estamos a fugir a uma velocidade vertiginosa do formato de marchas que já vem resistindo há muitos anos.
É natural que assim seja e que as influências musicais contemporâneas acabem por moldar as novas “marchas” de carnaval. Crescem a ouvir hip hop, house e drum n’bass como poderiam fazer marchas como “É Entrudo!”, “É de ceda!”, ou “Mil Carnavais”? É claro que tem de sair coisas como “Ui, ka ganda pêxe” e outros produtos similares. Goste-se ou não, é esta a nova realidade.
Para os músicos que tocam no carnaval da Nazaré resta-nos acompanhar a realidade e tocar… MARCHAS! Na dúvida, tocamos outra marcha, pois “se queres dançar à pinguim”, vai para a danceteria!
Um Bom Carnaval para todos, em especial, para os meus colegas músicos das salas, bares, discotecas e danceterias. Encontramo-nos no jantar de quarta-feira no local do costume, à hora do costume.