Continuando a saga que começou aqui, prosseguindo com os meus amigos Vista da Selva, e Rui Amado, segue agora um post da autoria de Luís Macedo, o pataiense nazareno, que está actualmente a trabalhar em Benguela. De resto, podem acompanhá-lo aqui.
"Depois de muita insistência por parte do patrão deste blog, e após várias horas de negociação nocturna online, lá acedi a escrever algo.
Falo da Nazaré, não vista do suberco, mas de um local mais longínquo, de Benguela em Angola.
Sou paleco e ainda por cima, sou de Pataias. Desde muito novo, ouvi colegas e amigos a falarem das pessoas da Nazaré como “maus como as cobras” e que “não interessavam a ninguém”, algo que, pessoalmente nunca presenciei, mas que mais tarde percebi que essa situação era fruto da natural rivalidade entre terras vizinhas, uma vez que com os Alcobacenses se passa o mesmo.
Quis o destino que tivesse nascido na Nazaré e que aos 24 anos fosse trabalhar para essa terra onde permaneci durante “longos” 9 anos.
Devo dizer que durante todo esse tempo fiz muitos amigos, alguns com quem mantive e mantenho uma amizade absoluta, o que veio contrariar completamente o que tinha ouvido desde sempre.
Conheci a cultura Nazarena que aprendi a respeitar, a admirar e até a ser um dos seus seguidores, sentindo-me integrado nessa sua cultura única. A paixão que os Nazarenos entregam na defesa daquilo que consideram ser as suas tradições é de louvar, e tenho pena que muitas dessas localidades espalhadas pelo país, não haja essa mesma entrega. Claro que nestas tradições, o Carnaval é das que mais se destaca, os Nazarenos fazem o carnaval para eles e não para o turista, contrariando o que vai acontecendo pelo resto do país em que muitos carnavais são “comprados” e “vendidos” como se um negócio de mercearia se tratasse. Os nazarenos vivem o seu carnaval, e o que mais valorizo na minha visão de paleco, é o facto dos reis de carnaval serem figuras carismáticas da Nazaré e não figuras “pimbas” da rádio, televisão ou até mesmo “futeboleiras”. Espero que assim continuem durante muitos e muitos anos, e que mantenham o carnaval vivo e tradicional. Certamente que alguns dos que lêem irão rir, porque sabem que não sou grande apreciador de carnaval, mas, posso e tenho a minha opinião, além disso, acabei por estar envolvido no carnaval ao pertencer a um saudoso grupo das “Tinturêras do Porto d’ Abrigo”.
Claro que falar da minha experiência como “nazareno”, não posso deixar de referir as noites da Nazaré, desde o antigo Bar do Peixe, até ao actual NBar, onde passei muitas e muitas horas de animação juntamente com amigos. Foram “alguns” litros de bebida, acompanhados de grandes “palhaçadas”.
Devo dizer, que apesar de estar longe, continuo a sentir-me “nazareno”, e quando estou em Portugal, a Nazaré é dos primeiros locais onde regresso, o seu promontório, a marginal, a praia, o mar revolto, as esplanadas, são locais que tornam a Nazaré atractiva, bonita e única, dos quais nunca me irei afastar. O afecto que sinto ao ser recebido pelos meus “antigos” companheiros e amigos, faz-me sentir uma nostalgia enorme quando me ausento novamente. Felizmente, actualmente existem as novas tecnologias que nos aproximam e permitem matar as saudades que se vão acumulando.
Bem Ricardo, para já não me alongo mais, se permitires, voltarei a escrever mais alguns Posts para o teu blog, onde espero falar um pouco mais da Nazaré, da sua beleza, das suas tradições e do seu afável povo. Já agora, irei acrescentar também alguns factos que acontecem por este País que é a minha actual “pátria”. Este foi no fundo, uma apresentação de um paleco que ousou tornar-se um pequeno nazareno.
Luis Macedo, um paleco “nazareno”
PS: Não te esqueças que agora me deves um jantar em Dezembro!"